Terça-feira, 18 de Março de 2008

O Significado e Função do Brinquedo na Criança

A actividade lúdica da criança é um dos aspectos mais genuínos do comportamento infantil.

O jogo pode ser visto como um marco de referência cultural e de uma aproximação genética, como a expressão do procurar o outro, mais precisamente, a expressão do procurar o adulto (a quem a criança procura imitar ou contrariar) e ao qual, em seguida, substitui pelas regras do jogo.

Até aos 5 anos podem observar-se crianças que jogam em grupo, contudo e apesar de jogarem juntas, cada uma joga em separado.

Dos 6-10 anos: grupos de jogos competitivos (carácter heterogéneo: muitas vezes os pequenos apenas admiram os maiores, para só depois serem aceites nesse mesmo grupo).

Com o desenrolar do crescimento, nasce gradualmente a disciplina na actividade lúdica. No início existe apenas um respeito pela ordem exterior, isto é, há um gosto pelos ritmos, pelas repetições, etc. Com a evolução em direcção à ordem, opõe-se o egocentrismo e a impulsividade da criança. A ordem, a regra e a disciplina vão-se infiltrando no jogo. A actividade funcional conduz à imitação. As invenções partem da analogia, as tradições são duradouras (ex: canções infantis, onde também há a manifestação da herança adulta).

É possível classificar os brinquedos em: brinquedo completamente pronto, simples ou mecânico (ex: carrinhos), que tem como finalidade que a criança brinque realmente, consiga efeitos, construa, faça combinações; brinquedos feitos aos poucos, que a própria criança deve completar (ex: quebra-cabeças), que têm como finalidade, levar até ao fim aquilo que começou; material de jogo (ex: plasticinas), sendo que a finalidade deste ultimo seja a compreensão da utilidade de cada brinquedo e que aprenda a cuidar deles.

A actividade funcional da criança (marcha) possui um carácter pré-lúdico que adquire o seu valor completo, somente em relação com a sua satisfação social. O jogo tem valor na aquisição do sentido social somente se não for desprezado pelos adultos.

Muitas vezes, o significado dos jogos que a criança pratica apresenta um carácter defensivo e projectivo da sua realidade interior. Existem vários exemplos dessa defesa, a saber: menino que se entrega a exageros guerreiros, permite, em certa medida, controlar o medo que sente; menina que brinca com as bonecas, pode aprender, neste jogo, a controlar o seu medo e a culpa que sente pela mãe, uma vez que esta é vivida como uma rival edípica; brincar aos médicos, é uma modalidade de identificação narcisista, isto é, a criança experimenta ela própria, sobre o outro, em particular sobre o adulto que a ele se presta, os perigos que o doutor que a atende a faz correr.

O jogo, considerado sob o ângulo da aprendizagem das funções sociais, mostra que as particularidades da relação com os pais são uma parte contributiva importante no fenómeno da transmissão cultural.


 

 

Psicóloga Clínica Carolina Rodrigues às 19:00
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Enurese e Encoprese (Xixi e Cócó)

A Enurese é a emissão não voluntária de urina de dia ou a noite, até uma idade em que se espera que haja controle sobre a emissão, por parte da criança, ocorrendo por volta de 3-4 anos.

A Encoprese consiste em que a criança faça suas "necessidades", repetida e involuntariamente, em lugares que não são adequados para isso, numa idade em que se espera que haja controle do mesmo, por volta de 3-4 anos.

A enurese e encoprese são involuntárias e muitas das vezes são expressão de algum transtorno emocional. Quando é secundária, ou seja, quando ocorre após um período de controlo, pode tratar-se de um estado regressivo do desenvolvimento, motivado por factores ambientais e emocionais. Contudo, convém ter em conta que este problema pode também estar associado a algum problema orgânico.

A criança não tem culpa de não conseguir controlar a emissão das suas necessidades. A urina e as matérias fecais veiculam uma enorme carga afectiva para a criança, que poderá conter aspectos negativos e positivos ao nível relacional e afectivo. É um acto involuntário, como tal não pode ser punida e castigada porque isso irá aumentar a sua ansiedade, instabilidade emocional, reactivar medos e problemas de sociabilização. Pelo contrário, a criança precisa de apoio, incentivo e reforço positivo para aprender a controlar-se e crescer em harmonia. Ela necessita de sentir que os pais a apoiam, ajudam a superar o seu problema, compreendem e continuam a dar todo o afecto que necessita.

É necessário demonstrar à criança que não é necessário ter medo de crescer, pois continuará a ter o afecto, presença e apoio dos pais.

 

Alguns procedimentos e cuidados a ter para com a criança:

  • Não voltar a colocar a fralda
  • Não ralhar quando a criança faz xixi e cocó, nem exercer qualquer tipo de punição agressiva
  • Reforçar positivamente cada vez que a criança pede para ir à casa de banho, ou quando não “traz nenhum saquinho” da escola
  • Começar por utilizar o bacio e depois a casa de banho
  • Encorajar a criança a ir à casa de banho ou ao bacio e perguntar-lhe várias vezes se necessita de ir e leva-la até lá. Tornar este momento positivo e como fonte de bem-estar para a criança
  • Deixar a criança levar um boneco quando vai à casa de banho para sentir mais segura e relaxada
  • Passar algum tempo com a criança a brincar livremente para que sinta segurança e apoio na relação parental e progressivamente se sinta mais estável e tranquila emocionalmente.
Psicóloga Clínica Carolina Rodrigues às 18:10
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A Irrequietude da Criança

A função motora é, essencialmente, uma função relacional. A criança procura aproximar-se ou afastar-se de estados de desejo ou de medo, primeiro através do movimento, e só mais tarde através do pensamento. Assim, o desenvolvimento do bebé procede-se na alternância entre momentos de grande proximidade física e momentos de afastamento, sendo ambos os momentos organizadores do mundo interno, das relações com os outros e do próprio corpo. As representações de transformação e de mudança são a raiz das representações mentais, antecedendo as representações das coisas e das palavras; assim, a primeira representação da mãe tem a ver com os movimentos que a criança faz para se ajustar ao seu corpo, tudo permeado pelo grau de prazer ou desprazer conseguido com tais movimentos.

Deste modo, há uma íntima ligação entre movimentos e afectos. Os movimentos do bebé e da mãe só adquirem significado na resposta afectuosa que ambos dão um ao outro. É através da mímica, da postura, do movimento e da lalação que bebé e mãe ressentem e interpretam corporalmente o que querem transmitir.

A instabilidade motora é um fenómeno normal nas crianças antes da idade escolar, que tem como objectivo definir um território de segurança ou fugir a um objecto desconhecido e atemorizador. Aquilo a que se chama instabilidade da criança escolar é, então, a persistência de um comportamento da criança pré-escolar, ansiosa e insegura na vida social, quer dizer, longe da mãe ou com uma mãe insuficientemente disponível. De facto, as mães de crianças instáveis, estão frequentemente deprimidas (por vezes, afectivamente abandonadas) e os pais são frequentemente ausentes (por vezes, impacientes e mais rígidos).

A irrequietude caracteriza-se fundamentalmente por:

- desatenção

- movimento de “enguia”

- ausência de capacidade de auto-protecção

- ousadia desmedida

- egossintonia (a criança não sofre com a sua irrequietude mas com as consequências que daí advém)

Por detrás da irrequietude, encontram-se profundas ansiedades, que foram decisivas no modo como a criança organizou as suas relações com as pessoas e objectos. Assim, a instabilidade motora seria uma procura sem fim de um objecto de amor, a que a criança possa apegar-se com segurança. A irrequietude é a expressão e transformação da inquietação da criança - não há propriamente angústia e ansiedade, mas uma insatisfação permanente. De facto, não pode haver satisfação com a dispersão e a concentração é impossível para estas crianças, na medida em que concentrar-se equivale a parar. A criança anseia por um local ou um objecto de satisfação ou segurança, mas quando encontra um novo objecto, um novo local, uma nova actividade, rapidamente adquirem características de insegurança e desconforto. Logo, a criança tem necessidade de se movimentar novamente. Há uma constante oscilação entre o desconforto depressivo (angústia de afastamento enquanto receio de perda de bem-estar), que leva a criança a procurar outro objecto, e a angústia persecutória (angústia de aproximação enquanto interrogação quanto à qualidade do encontro), que faz com que o objecto seja sentido como ameaçador. Neste sentido, a proximidade desencadeia angústia claustrofóbica e a distância desencadeia angústia agorafóbica - a criança oscila constantemente entre uma e outra.

Com os movimentos de aproximação e afastamento, a criança procura manter ou adquirir um sentimento de bem-estar de fundo - a homeostasia narcísica primitiva está intimamente ligada à motricidade. Para a criança irrequieta, a movimentação, vista pelo observador como excessiva, é necessária para uma relativa estabilização.

A irrequietude na criança corresponde, a uma separação psicológica prematura, muito à frente das capacidades de individuação, devida a vicissitudes na relação com o objecto de amor primário. Esta separação prematura dificultará gravemente a travessia da etapa de reaproximação.

A mãe tem que ser sentida como suficientemente constante, previsível e tranquilizadora para que uma evolução normal se possa instalar. De outro modo, a criança pode privilegiar a motricidade como seu mecanismo primário de defesa, contra sentimentos de abandono e intrusão, transformando a irrequietude numa forma de anti-pensamento, que tem como finalidade minorar a dor psíquica. A irrequietude precoce constituiria, assim, também um dos modos de que a criança disporia para proceder a uma regulação da mãe. Progressivamente, este objecto será interiorizado, conduzindo à formação de um objecto interno gerador de profundas ansiedades no self. Sentindo como impossível a satisfação das necessidades de amor, estas serão transformadas numa procura sem fim de confortos materiais.

A irrequietude motora é apenas um aspecto de um quadro global complexo, onde se inserem perturbações dos afectos, da psicomotricidade, do pensamento e da linguagem. Estas perturbações vão dificultar grandemente a escolarização destas crianças.

A intervenção terapêutica será diferente consoante o diagnóstico psicopatológico e a estrutura na qual a irrequietude se insere.



Psicóloga Clínica Carolina Rodrigues às 17:50
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Segunda-feira, 17 de Março de 2008

A Criança Desafiadora – Perturbação Desafiador Opositivo

A perturbação desafiador opositivo pode ser definida como um padrão persistente de comportamentos negativistas, hostis, desafiadores e desobedientes observados nas interacções sociais da criança com adultos e figuras de autoridade de uma forma geral, como, pais, tios, avós e professores.

Os principais sintomas são: perda de paciência frequentemente, discussão com adultos, o desafio e recusa a obedecer a solicitações ou regras dos adultos, incomodo deliberadamente dos outros, responsabilização dos outros pelos seus erros e irritabilidade.

Existe nestas crianças ou adolescentes um prejuízo significativo no funcionamento social, académico ou ocupacional. Envolvem-se constantemente em discussões e são comummente rejeitados pelos colegas do grupo escolar. Consequentemente há um comprometimento da auto-estima.

Os sintomas iniciam-se normalmente antes dos oito anos de idade e a perturbação desafiador opositivo apresenta-se, em número significativo dos casos, como um precursor ou antecedente evolutivo do transtorno de conduta, forma mais grave de perturbação disruptiva do comportamento.

A prevalência da perturbação desafiador opositivo situa-se em torno de 2% a 16%, sendo aproximadamente duas vezes mais comum em meninos do que em meninas. Habitualmente observa-se a presença de transtornos comórbidos como a perturbação de déficit de atenção e hiperatividade, perturbações do humor e perturbações ansiosas.

A etiologia da perturbação desafiador opositivo não está bem estabelecida, no entanto, acredita-se que factores genéticos associados a desencadeadores ambientais possam estar envolvidos.

O tratamento preconizado para crianças e adolescentes com esse diagnóstico passa pela utilização de técnicas de intervenção psicológica com a criança, associadas a uma orientação a pais e professores.

Psicóloga Clínica Carolina Rodrigues às 18:10
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Dislexia Adquirida / Desenvolvimento; Dislexia Central/Periférica; Dislexia Profunda /Superfície

O termo dislexia refere-se a dificuldades de leitura na ausência de qualquer outra limitação ou alteração das capacidades intelectuais. Esta perturbação pode-se ainda classificar como dislexia adquirida, de desenvolvimento, central, periférica, de superfície e profunda.

A dislexia adquirida surge na sequência de um traumatismo ou lesão cerebral (a pessoa lia bem mas depois surgiu algum problema e passou a ter a perturbação).

A dislexia de desenvolvimento corresponde a uma perturbação ou atraso na aquisição de leitura que se relaciona com problemas na aprendizagem.

A dislexia central existe quando a produção de palavras escritas ou a sua leitura é afectada.

Por outro lado, a dislexia periférica ocorre apenas quando é afectado um modo de saída de vocalização e escrita.

A dislexia profunda ou fonológica caracteriza-se pela ocorrência dos chamados erros semânticos. Ex. A pessoa lê “carro” em vez de “roda”. Também se caracteriza por uma grande dificuldade em ler palavras desconhecidas.

A dislexia de superfície ou ortográfica corresponde à dificuldade de ler palavras irregulares, isto é, palavras que se lêem de forma diferente à da escrita. Ex. Em “guitarra” não se lê o “u”.

Os primeiros sinais de que a pessoa pode apresentar dislexia, tendem manifestar-se através de problemas de aprendizagem, dificuldades na linguagem oral, quando não há associação de símbolos gráficos às suas componentes auditivas, dificuldades em seguir orientações e instruções, dificuldades de memorização auditiva, problemas de atenção e ou de lateralidade. Na leitura ou na escrita, a pessoa pode confundir algumas letras, como por exemplo f/v; p/b; ch/j; p/t; v/z: b/d…) ou fazer possíveis inversões: ai/ia; per/pré; fla/fal; cubido/bicudo… ou ainda fazer omissões: livo/livro; batata/bata…).

O psicólogo pode intervir para ajudar a pessoa a melhorar e a ultrapassar estas dificuldades. No caso da dislexia ser profunda pode-se reeducar fenologicamente a pessoa aplicando exercícios que a faz tomar consciência fonética.

 

Psicóloga Clínica Carolina Rodrigues às 18:00
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As Birras...Um exteriorizar de frustrações...

 As birras começam com um motivo, quer seja interno ou externo. Como tal, é muito importante identificar esse motivo a fim de as evitar no futuro.

 

No auge de uma birra parece que o controlo desapareceu por completo. Neste estado, não há pensamento, reflexão, comunicação possível, apenas existe uma descarga explosiva de tensão. Para além disso, surgem manifestações físicas: a pele fica avermelhada, o ritmo cardíaco e respiratório aumentam e o corpo da criança agita-se ou entra em "convulsões" com o choro.

As crianças com idades acima dos 2 anos e meio ou dos 3 anos parecem usar as birras como uma ameaça e uma ferramenta para conseguirem o que querem. Se a criança estiver frustrada porque quer algo que não pode ter, o adulto não tem de lho dar. Caso o faça, estará a aumentar a possibilidade de que as birras aconteçam. A criança precisa de saber que as suas birras não são tão poderosas nem tão assustadoras que os pais não consigam fazer-lhes frente e precisa da certeza que os pais se atrevem a enfrentar a birra, cuidam dela e a protegem dela mesma.

Quando tal acontece, ela tenta primeiro tudo o que sabe. Vai até parecer-lhe que a criança está a dar-lhe um último olhar de aviso antes de se atirar para o chão. Mesmo aí, ela parece estar bem consciente do seu público e abranda de vez em quando para avaliar se este se mantém e grita mais alto se a mãe ou o pai tentarem intervir.

É nesta altura que os pais precisam de perceber que o seu poder sobre uma birra está em desistir dela e deixar a criança a aprender a controlar-se: “Estou a ver que estás descontrolado. Sei que consegues controlar-te sozinho, por isso vou afastar-me um pouco até que o faças”.

Depois do pior ter passado, a criança começa a descontrair-se e volta a pouco e pouco ao seu estado normal. No entanto, ainda está frágil e pode irritar-se facilmente com intromissões no seu esforço para se acalmar.

Mais tarde podem conversar com a criança sobre o que se passou. Nessa altura, podem tentar fazer uma revisão dos acontecimentos, na esperança de os evitar no futuro. Deve-se também elogiar quando a criança se conseguiu controlar, incentivando-a a dominar as birras tão assustadoras para ela própria. Um abraço, um beijinho, ajuda a criança a sentir-se de novo segura.

 

Quais são as causas das birras?

As birras acontecem, muitas das vezes, porque as crianças, já “obrigadas” a encararem um vasto leque de desafios – motores, cognitivos, emocionais, comunicacionais e sociais – ainda não dominam as competências necessárias para lidar com todos eles. Para além de uma coordenação limitada, falta de destreza e de palavras, está a falta de algumas capacidades básicas – tolerância à frustração, paciência e a capacidade de se acalmar, entre outras, sem as quais as birras se tornam inevitáveis. Estas capacidades vão sendo adquiridas ao longo do crescimento e podem demorar algum tempo a ser interiorizadas. Mas não se preocupe porque são normais em crianças com menos de 4 ou 5 anos.

 

Como lidar com as birras?

Se a criança puder ser deixada onde está, em segurança, deixe-a, afastando-se um pouco. Caso ela esteja a usar a birra para lhe transmitir algo, afastar-se é a melhor maneira de lhe mostrar que tem de encontrar uma forma mais adequada de lhe dizer o que lhe vai na cabeça.

Antes de se afastar um pouco, diga à criança que sabe que ela é capaz de se controlar e que volta para perto dela quando isso acontecer. O melhor é não se envolver na birra dela.

Caso, não possa deixá-la onde ele está, por exemplo numa loja ou no passeio, pegue-lhe ao colo. Algumas crianças sentem-se confortadas quando lhes pegam no meio de uma birra e vão-se, progressivamente, acalmando ao sentirem-se agarradas com firmeza. Explique-lhe, calmamente, que a vai segurar até que ela se acalme.

Caso fique ainda mais agitada, afaste-a o mais rapidamente possível para um lugar seguro (por exemplo, da loja para o seu carro, onde podem sentar-se calmamente, não a deixe sozinha). Nesse momento, fale com ela o menos possível, excepto para lhe dizer que não vai acontecer nada antes de se acalmar.

Se a criança tentar interagir consigo antes de se acalmar, dê-lhe tempo, não se envolva ainda. O “tratamento silencioso” pode deixá-la furiosa, portanto diga-lhe rapidamente que irão conversar quando tiver a certeza de que ela já terminou e se consegue manter calma. Se tentar falar com o seu filho sobre o incidente antes de ele se ter acalmado, para lhe dizer o que pensa ou deixá-lo explicar-se, é provável, que ele se descontrole outra vez. Diga-lhe: “falamos quando fores capaz de o fazer sem ficares agitado.”

Uma maneira de a criança controlar as birras passa por seguir o exemplo dos pais em termos de estratégias de auto controlo. As piores birras ou as mais inconvenientes e embaraçosas acontecem quando os pais estão mais tensos, pois a criança sente essa ansiedade e consequente reage a isso, aumentando e manifestando também a sua própria tensão.

As birras não acabam de um momento para o outro, não deixe de desencorajar o seu filho quando a próxima acontecer. Se a sua resposta às crises dele lhe der a impressão de que lhe fazem a vontade se fizer birra, é provável que ele repita, uma e outra vez, mesmo quando já tiver idade para não o fazer. O seu filho precisa de perceber que as birras significam que ele se descontrolou e não que a controla a si. Quando a criança sente que tem controlo sobre a mãe/pai mais do que devia, pode sentir-se assustada. As crianças precisam de saber que os pais dominam as situações, especialmente quando elas não são capazes de o fazer.

A serenidade dos pais, o amor que é transmitido à criança, e o estabelecimento de uma relação pais-filho de segurança é o melhor meio para lidar com as birras.

Psicóloga Clínica Carolina Rodrigues às 17:57
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Anorexia - "Um espelho cego"

A anorexia é um “salto de Ícaro” – a dada altura, a adolescente dá um salto em direcção a uma auto-afirmação e autonomia, mas este é acompanhado muitas das vezes por intensas necessidades de regressão. Tal perturbação torna-se evidente, em regra, na transição da pré-adolescência para a adolescência e é mais frequente nas raparigas do que nos rapazes.

A adolescente controla, por um lado, o que come, numa afirmação megalomaníaca de autonomia e oposição aos mandatos familiares; e por outro lado, obriga o corpo a involuir para uma fase infantil, regressando ao período de latência. A adolescente sente um intenso medo do crescimento e da idade adulta, com todas as suas dimensões, incluindo a sexual.

As formas femininas vão desaparecendo, acabando a jovem por ficar com um aspecto cadavérico, que, mesmo assim, é sentido pela adolescente como uma insatisfatória aproximação do seu ideal corporal. Assim, as consequências somáticas da anorexia são várias: magreza, rosto pálido e pele cinzenta, olhar vazio e sem brilho, olhos encovados e olheirentos, queda de cabelo, amenorreia, hipotensão, anemia e gastrites.

As adolescentes anorécticas foram geralmente crianças muito dependentes do meio familiar, “meninas-modelo”, perfeccionistas, conformistas, indo sempre de encontro às expectativas dos pais e procurando agradar. O ideal de perfeição está presente a todos os níveis.

Segundo alguns autores, as restrições alimentares podem começar na sequência de um choque emocional ou de conflitos psicológicos mais ou menos evidentes, mas quase sempre aparecem progressivamente e sem causa aparente. Inicialmente, estas restrições alimentares não são preocupantes e aparecem como condutas normais. Quando os pais se apercebem da gravidade da situação, já a anorexia está perfeitamente instalada e adolescente encontra-se já numa fase de involução, sem se preocupar com as suas restrições.

Os problemas em relação à comida instala-se a diferentes níveis na família - a anoréctica nega a anorexia e a extrema magreza, centrando toda a sua vida ao redor da dieta e do corpo; do lado da família, é muito difícil para uma mãe aceitar que a filha morra de fome – foi a comida o primeiro elo que se estabeleceu entre o bebé e a mãe. Assim, os pais tentam obrigá-la a comer, mas a adolescente ou jovem afirma que se sente bem e a sua actividade continua num nível que raia a hiperactividade motora e intelectual mas numa fase final, podem aparecer tendências depressivas e alguma angústia.

Paralelamente, as relações familiares vão-se degradando e vão-se gerando conflitos. Por um lado, as expectativas dos pais em relação à filha eram muito altas e foram “brutalmente” desiludidas; por outro lado, a adolescente vive na defensiva, centrando-se num jogo familiar em que tudo gira à volta da comida.

A comunicação centra-se na alimentação e é paradoxal. Por um lado, com o seu comportamento, a anoréctica provoca a intervenção do meio familiar, por outro lado, recusa ser ajudada, ser cuidada, ser reparada. As relações sociais também se degradam e as relações amorosas são evitadas ou, quando existem, são extremamente superficiais.

Toda a vivência relacional é conflitual e a realidade está perfeitamente deturpada em termos de corpo e alimentação.

A abordagem terapêutica deve ser sempre feita a dois níveis – físico e psicológico. Para se libertar desta procura de auto-destruição, a adolescente ou jovem tem que aprender a aceitar-se a viver, a ter prazer e a relacionar-se com os outros.

 

Psicóloga Clínica Carolina Rodrigues às 17:55
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Domingo, 16 de Março de 2008

Perturbação da Ansiedade Generalizada

A característica essencial da Perturbação de Ansiedade Generalizada é a ansiedade e a preocupação (apreensão expectante) exageradas acerca de um conjunto de acontecimentos ou actividades. A pessoa apresenta dificuldade em controlar a preocupação, sendo a ansiedade e a preocupação acompanhadas de, pelos menos, três sintomas adicionais de uma lista que inclui agitação, fadiga fácil, dificuldade de concentração, irritabilidade, tensão muscular e sono perturbado.

Apesar das pessoas com este tipo de perturbação nem sempre classificarem as preocupações como “excessivas”, descrevem mal-estar subjectivo, devido a essas constantes preocupações, têm dificuldade em controla-las ou evidenciam limitações no funcionamento social, ocupacional ou noutras áreas importantes. A pessoa tem dificuldade em evitar que os pensamentos preocupantes interfiram com a atenção que deve prestar às tarefas que está a desempenhar e tem dificuldade em colocar um fim às preocupações.

 Os adultos que possuem esta perturbação preocupam-se frequentemente com circunstâncias diárias e rotineiras da vida, tais como, possíveis responsabilidades no emprego, aspectos financeiros, situações que podem acontecer aos filhos ou pequenos problemas.

 

Psicóloga Clínica Carolina Rodrigues às 17:30
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Ansiedade e Depressão

A ansiedade e a depressão são consideradas por muitos médicos dos cuidados primários como uma única doença, uma vez que a maioria das pessoas sofre daquilo que parece ser um quadro misto de ansiedade e de depressão. Apenas um pequeno número, se apresenta com ansiedade simples ou depressão simples.

A ansiedade e a depressão são os problemas mais comuns que levam as pessoas a procurarem ajuda terapêutica.

Poder-se-á distinguir dois tipos de ansiedade:

- A ansiedade primária, ou também chamada de “ansiedade traumática” condicionada por um “traumatismo” ou modificações do meio, onde a própria pessoa é incapaz de dominar.

- A ansiedade secundária ou “ansiedade-sinal”, que corresponde à resposta da própria pessoa a um perigo interior, ou seja, um movimento pulsional que ameaça romper o equilíbrio da relação.

Na primeira, a pessoa perde a sua capacidade de resposta por imaturidade, por estar num estado regressivo ou pelo excesso dos estímulos externos, sendo uma experiência emocional sofrida passivamente. Na segunda, a pessoa utiliza um sinal de antecipação do perigo para pôr em marcha os mecanismos de adaptação e defesa, ou seja, a ansiedade secundária é um despertador de uma actividade específica.

Poder-se-á dizer, também, que a ansiedade é o medo interiorizado (ficou registada a perigosidade de uma determinada situação relacional), surgindo o medo quando se repete uma situação idêntica, sem que a situação actual seja comparada conscientemente com a situação anterior.

Contudo, ansiedade não é sinónimo de depressão e nesse sentido dever-se-á distinguir a ansiedade da depressão.

Enquanto que a depressão corresponde a uma situação de perda, desamparo ou solidão efectiva; a ansiedade corresponde ao afecto produzido pela ameaça de perda ou insegurança. No entanto, pode-se correlacionar a ansiedade secundária com a depressão ligada a uma transitória diminuição da auto-estima por perdas sofridas, como sinal da necessidade de novos investimentos. E a ansiedade primária, com a doença depressiva, na qual se assiste a uma regressão, condicionada por uma relação em que predomina a incerteza e a ambivalência, isto é, a necessidade de alimentos narcísicos e a intolerância à frustração (condições oriundas de uma relação primária precária e pobre, que se vai repetindo nas relações sucessivas que se estabelecem pela vida fora).  

Em suma, poder-se-á referir que a perda e a ameaça de novas perdas se encadeiam num continuum existencial, e por isso, em toda a depressão há sempre ansiedade mais ou menos evidente.

 

Psicóloga Clínica Carolina Rodrigues às 17:15
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O outro lado dos encantos… Depressão Pós-Parto / Materna

Todas as transformações inerentes à gravidez tornam a mulher mais sensível e mais vulnerável para o bom e para o mau. A mulher pode sentir-se mais insegura em relação às suas competências como mãe. Tende a questionar-se se vai conseguir cuidar do bebé e responder às suas necessidades.

Autores dizem que após o nascimento do bebé, a mãe pode apresentar aquilo que se chama de “blues pós parto”. Caracteriza-se por sentimentos passageiros manifestos em humor depressivo, crises de choro sem motivo aparente ou desencadeadas por situações que normalmente não teriam tal efeito, irritabilidade fácil, ansiedade, perturbações do sono e do apetite, alguma confusão, sentimentos de inferioridade, culpabilidade e vivência de cansaço. Este “blues pós parto” pode resultar de uma série de factores, nomeadamente da estrutura da personalidade da mãe. Pode durar algumas horas, dias e pode ir até à 2ª/ 3ª semana após o parto. Muitas vezes não é detectado, é sim desvalorizado pelas pessoas que estão em torno da mãe; família e amigos que dizem: “é normal, está vulnerável”.

Muitas vezes, este quadro antecede a depressão pós-parto propriamente dita, apresentando mais ou menos os mesmos sintomas mas sendo mais contínua no tempo.

Na depressão pós-parto, os sentimentos de inferioridade resultam directamente dos sentimentos de incapacidade para cuidar do seu bebé, dar-lhe amor e compreender as mensagens que o bebé transmite. A mulher apresenta cansaço, desinteresse, incapacidade para tomar qualquer responsabilidade, culpabilidade, sentimentos de vergonha e desespero. Sente que não é capaz de cuidar do seu bebé, que não quer, tem uma enorme culpabilidade e acha que outra pessoa cuidaria melhor do bebé. Esses sentimentos dão origem mais tarde a comportamentos de hiper-protecção e hiper-presença para compensar a culpabilidade que sente pela forma como tratou ou sentiu o seu bebé inicialmente.

Nestas situações, a mãe não deve ser afastada do bebé mas sim cuidar dele com ajuda, excepto quando há descompensação psicótica.

Muitas vezes a depressão pós parto não é diagnosticada e só mais tarde quando a criança já é grande, é que se detecta a depressão na mãe. Já não é depressão pós parto mas sim depressão materna que derivou da gravidez mas que não foi reconhecida nessa altura. A mulher sente-se cada vez mais incapaz e que ninguém a percebe.

Daí que numa depressão pós-parto a mãe deve ser compreendida e ajudada. Tudo piora quando ela fica sozinha e nem sequer consegue preencher os cuidados básicos, acabando por deixar o bebé a chorar durante muito tempo. Esta mãe vai sentir-se extremamente culpabilizada e os seus sentimentos de culpabilidade vão ser sentidos, não só na própria (como acontece numa depressão “normal”) como também no seu bebé. Este estado psicológico não a vai ajudar a estabelecer relação com o bebé. Fica incapaz de funcionar em qualquer campo e como tal os sentimentos de culpa vão sendo cada vez maiores e alastram-se igualmente para o seu dia-a-dia, ou seja, não consegue fazer nada bem, nem como mulher, nem como profissional.

Neste sentido, torna-se essencial que seja realizado um diagnóstico na devida altura para que se possa fazer uma intervenção no sentido de restabelecer o funcionamento da mãe, melhorar a relação mãe-bebé e para que mãe consiga compreender e ultrapassar o que está a sentir e vivenciar dentro dela.

 

Psicóloga Clínica Carolina Rodrigues às 17:05
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