A actividade lúdica da criança é um dos aspectos mais genuínos do comportamento infantil.
O jogo pode ser visto como um marco de referência cultural e de uma aproximação genética, como a expressão do procurar o outro, mais precisamente, a expressão do procurar o adulto (a quem a criança procura imitar ou contrariar) e ao qual, em seguida, substitui pelas regras do jogo.
Até aos 5 anos podem observar-se crianças que jogam em grupo, contudo e apesar de jogarem juntas, cada uma joga em separado.
Dos 6-10 anos: grupos de jogos competitivos (carácter heterogéneo: muitas vezes os pequenos apenas admiram os maiores, para só depois serem aceites nesse mesmo grupo).
Com o desenrolar do crescimento, nasce gradualmente a disciplina na actividade lúdica. No início existe apenas um respeito pela ordem exterior, isto é, há um gosto pelos ritmos, pelas repetições, etc. Com a evolução em direcção à ordem, opõe-se o egocentrismo e a impulsividade da criança. A ordem, a regra e a disciplina vão-se infiltrando no jogo. A actividade funcional conduz à imitação. As invenções partem da analogia, as tradições são duradouras (ex: canções infantis, onde também há a manifestação da herança adulta).
É possível classificar os brinquedos em: brinquedo completamente pronto, simples ou mecânico (ex: carrinhos), que tem como finalidade que a criança brinque realmente, consiga efeitos, construa, faça combinações; brinquedos feitos aos poucos, que a própria criança deve completar (ex: quebra-cabeças), que têm como finalidade, levar até ao fim aquilo que começou; material de jogo (ex: plasticinas), sendo que a finalidade deste ultimo seja a compreensão da utilidade de cada brinquedo e que aprenda a cuidar deles.
A actividade funcional da criança (marcha) possui um carácter pré-lúdico que adquire o seu valor completo, somente em relação com a sua satisfação social. O jogo tem valor na aquisição do sentido social somente se não for desprezado pelos adultos.
Muitas vezes, o significado dos jogos que a criança pratica apresenta um carácter defensivo e projectivo da sua realidade interior. Existem vários exemplos dessa defesa, a saber: menino que se entrega a exageros guerreiros, permite, em certa medida, controlar o medo que sente; menina que brinca com as bonecas, pode aprender, neste jogo, a controlar o seu medo e a culpa que sente pela mãe, uma vez que esta é vivida como uma rival edípica; brincar aos médicos, é uma modalidade de identificação narcisista, isto é, a criança experimenta ela própria, sobre o outro, em particular sobre o adulto que a ele se presta, os perigos que o doutor que a atende a faz correr.
O jogo, considerado sob o ângulo da aprendizagem das funções sociais, mostra que as particularidades da relação com os pais são uma parte contributiva importante no fenómeno da transmissão cultural.
A Enurese é a emissão não voluntária de urina de dia ou a noite, até uma idade em que se espera que haja controle sobre a emissão, por parte da criança, ocorrendo por volta de 3-4 anos.
A Encoprese consiste em que a criança faça suas "necessidades", repetida e involuntariamente, em lugares que não são adequados para isso, numa idade em que se espera que haja controle do mesmo, por volta de 3-4 anos.
A enurese e encoprese são involuntárias e muitas das vezes são expressão de algum transtorno emocional. Quando é secundária, ou seja, quando ocorre após um período de controlo, pode tratar-se de um estado regressivo do desenvolvimento, motivado por factores ambientais e emocionais. Contudo, convém ter em conta que este problema pode também estar associado a algum problema orgânico.
A criança não tem culpa de não conseguir controlar a emissão das suas necessidades. A urina e as matérias fecais veiculam uma enorme carga afectiva para a criança, que poderá conter aspectos negativos e positivos ao nível relacional e afectivo. É um acto involuntário, como tal não pode ser punida e castigada porque isso irá aumentar a sua ansiedade, instabilidade emocional, reactivar medos e problemas de sociabilização. Pelo contrário, a criança precisa de apoio, incentivo e reforço positivo para aprender a controlar-se e crescer em harmonia. Ela necessita de sentir que os pais a apoiam, ajudam a superar o seu problema, compreendem e continuam a dar todo o afecto que necessita.
É necessário demonstrar à criança que não é necessário ter medo de crescer, pois continuará a ter o afecto, presença e apoio dos pais.
Alguns procedimentos e cuidados a ter para com a criança:
A função motora é, essencialmente, uma função relacional. A criança procura aproximar-se ou afastar-se de estados de desejo ou de medo, primeiro através do movimento, e só mais tarde através do pensamento. Assim, o desenvolvimento do bebé procede-se na alternância entre momentos de grande proximidade física e momentos de afastamento, sendo ambos os momentos organizadores do mundo interno, das relações com os outros e do próprio corpo. As representações de transformação e de mudança são a raiz das representações mentais, antecedendo as representações das coisas e das palavras; assim, a primeira representação da mãe tem a ver com os movimentos que a criança faz para se ajustar ao seu corpo, tudo permeado pelo grau de prazer ou desprazer conseguido com tais movimentos.
Deste modo, há uma íntima ligação entre movimentos e afectos. Os movimentos do bebé e da mãe só adquirem significado na resposta afectuosa que ambos dão um ao outro. É através da mímica, da postura, do movimento e da lalação que bebé e mãe ressentem e interpretam corporalmente o que querem transmitir.
A instabilidade motora é um fenómeno normal nas crianças antes da idade escolar, que tem como objectivo definir um território de segurança ou fugir a um objecto desconhecido e atemorizador. Aquilo a que se chama instabilidade da criança escolar é, então, a persistência de um comportamento da criança pré-escolar, ansiosa e insegura na vida social, quer dizer, longe da mãe ou com uma mãe insuficientemente disponível. De facto, as mães de crianças instáveis, estão frequentemente deprimidas (por vezes, afectivamente abandonadas) e os pais são frequentemente ausentes (por vezes, impacientes e mais rígidos).
A irrequietude caracteriza-se fundamentalmente por:
- desatenção
- movimento de “enguia”
- ausência de capacidade de auto-protecção
- ousadia desmedida
- egossintonia (a criança não sofre com a sua irrequietude mas com as consequências que daí advém)
Por detrás da irrequietude, encontram-se profundas ansiedades, que foram decisivas no modo como a criança organizou as suas relações com as pessoas e objectos. Assim, a instabilidade motora seria uma procura sem fim de um objecto de amor, a que a criança possa apegar-se com segurança. A irrequietude é a expressão e transformação da inquietação da criança - não há propriamente angústia e ansiedade, mas uma insatisfação permanente. De facto, não pode haver satisfação com a dispersão e a concentração é impossível para estas crianças, na medida em
Com os movimentos de aproximação e afastamento, a criança procura manter ou adquirir um sentimento de bem-estar de fundo - a homeostasia narcísica primitiva está intimamente ligada à motricidade. Para a criança irrequieta, a movimentação, vista pelo observador como excessiva, é necessária para uma relativa estabilização.
A irrequietude na criança corresponde, a uma separação psicológica prematura, muito à frente das capacidades de individuação, devida a vicissitudes na relação com o objecto de amor primário. Esta separação prematura dificultará gravemente a travessia da etapa de reaproximação.
A mãe tem que ser sentida como suficientemente constante, previsível e tranquilizadora para que uma evolução normal se possa instalar. De outro modo, a criança pode privilegiar a motricidade como seu mecanismo primário de defesa, contra sentimentos de abandono e intrusão, transformando a irrequietude numa forma de anti-pensamento, que tem como finalidade minorar a dor psíquica. A irrequietude precoce constituiria, assim, também um dos modos de que a criança disporia para proceder a uma regulação da mãe. Progressivamente, este objecto será
A irrequietude motora é apenas um aspecto de um quadro global complexo, onde se inserem perturbações dos afectos, da psicomotricidade, do pensamento e da linguagem. Estas perturbações vão dificultar grandemente a escolarização destas crianças.
A perturbação desafiador opositivo pode ser definida como um padrão persistente de comportamentos negativistas, hostis, desafiadores e desobedientes observados nas interacções sociais da criança com adultos e figuras de autoridade de uma forma geral, como, pais, tios, avós e professores.
Os principais sintomas são: perda de paciência frequentemente, discussão com adultos, o desafio e recusa a obedecer a solicitações ou regras dos adultos, incomodo deliberadamente dos outros, responsabilização dos outros pelos seus erros e irritabilidade.
Existe nestas crianças ou adolescentes um prejuízo significativo no funcionamento social, académico ou ocupacional. Envolvem-se constantemente em discussões e são comummente rejeitados pelos colegas do grupo escolar. Consequentemente há um comprometimento da auto-estima.
Os sintomas iniciam-se normalmente antes dos oito anos de idade e a perturbação desafiador opositivo apresenta-se, em número significativo dos casos, como um precursor ou antecedente evolutivo do transtorno de conduta, forma mais grave de perturbação disruptiva do comportamento.
A prevalência da perturbação desafiador opositivo situa-se em torno de 2% a 16%, sendo aproximadamente duas vezes mais comum em meninos do que em meninas. Habitualmente observa-se a presença de transtornos comórbidos como a perturbação de déficit de atenção e hiperatividade, perturbações do humor e perturbações ansiosas.
A etiologia da perturbação desafiador opositivo não está bem estabelecida, no entanto, acredita-se que factores genéticos associados a desencadeadores ambientais possam estar envolvidos.
O tratamento preconizado para crianças e adolescentes com esse diagnóstico passa pela utilização de técnicas de intervenção psicológica com a criança, associadas a uma orientação a pais e professores.
O termo dislexia refere-se a dificuldades de leitura na ausência de qualquer outra limitação ou alteração das capacidades intelectuais. Esta perturbação pode-se ainda classificar como dislexia adquirida, de desenvolvimento, central, periférica, de superfície e profunda.
A dislexia adquirida surge na sequência de um traumatismo ou lesão cerebral (a pessoa lia bem mas depois surgiu algum problema e passou a ter a perturbação).
A dislexia de desenvolvimento corresponde a uma perturbação ou atraso na aquisição de leitura que se relaciona com problemas na aprendizagem.
A dislexia central existe quando a produção de palavras escritas ou a sua leitura é afectada.
Por outro lado, a dislexia periférica ocorre apenas quando é afectado um modo de saída de vocalização e escrita.
A dislexia profunda ou fonológica caracteriza-se pela ocorrência dos chamados erros semânticos. Ex. A pessoa lê “carro” em vez de “roda”. Também se caracteriza por uma grande dificuldade em ler palavras desconhecidas.
A dislexia de superfície ou ortográfica corresponde à dificuldade de ler palavras irregulares, isto é, palavras que se lêem de forma diferente à da escrita. Ex. Em “guitarra” não se lê o “u”.
Os primeiros sinais de que a pessoa pode apresentar dislexia, tendem manifestar-se através de problemas de aprendizagem, dificuldades na linguagem oral, quando não há associação de símbolos gráficos às suas componentes auditivas, dificuldades em seguir orientações e instruções, dificuldades de memorização auditiva, problemas de atenção e ou de lateralidade. Na leitura ou na escrita, a pessoa pode confundir algumas letras, como por exemplo f/v; p/b; ch/j; p/t; v/z: b/d…) ou fazer possíveis inversões: ai/ia; per/pré; fla/fal; cubido/bicudo… ou ainda fazer omissões: livo/livro; batata/bata…).
O psicólogo pode intervir para ajudar a pessoa a melhorar e a ultrapassar estas dificuldades. No caso da dislexia ser profunda pode-se reeducar fenologicamente a pessoa aplicando exercícios que a faz tomar consciência fonética.
As birras começam com um motivo, quer seja interno ou externo. Como tal, é muito importante identificar esse motivo a fim de as evitar no futuro.
No auge de uma birra parece que o controlo desapareceu por completo. Neste estado, não há pensamento, reflexão, comunicação possível, apenas existe uma descarga explosiva de tensão. Para além disso, surgem manifestações físicas: a pele fica avermelhada, o ritmo cardíaco e respiratório aumentam e o corpo da criança agita-se ou entra em "convulsões" com o choro.
As crianças com idades acima dos 2 anos e meio ou dos 3 anos parecem usar as birras como uma ameaça e uma ferramenta para conseguirem o que querem. Se a criança estiver frustrada porque quer algo que não pode ter, o adulto não tem de lho dar. Caso o faça, estará a aumentar a possibilidade de que as birras aconteçam. A criança precisa de saber que as suas birras não são tão poderosas nem tão assustadoras que os pais não consigam fazer-lhes frente e precisa da certeza que os pais se atrevem a enfrentar a birra, cuidam dela e a protegem dela mesma.
Quando tal acontece, ela tenta primeiro tudo o que sabe. Vai até parecer-lhe que a criança está a dar-lhe um último olhar de aviso antes de se atirar para o chão. Mesmo aí, ela parece estar bem consciente do seu público e abranda de vez em quando para avaliar se este se mantém e grita mais alto se a mãe ou o pai tentarem intervir.
É nesta altura que os pais precisam de perceber que o seu poder sobre uma birra está em desistir dela e deixar a criança a aprender a controlar-se: “Estou a ver que estás descontrolado. Sei que consegues controlar-te sozinho, por isso vou afastar-me um pouco até que o faças”.
Depois do pior ter passado, a criança começa a descontrair-se e volta a pouco e pouco ao seu estado normal. No entanto, ainda está frágil e pode irritar-se facilmente com intromissões no seu esforço para se acalmar.
Mais tarde podem conversar com a criança sobre o que se passou. Nessa altura, podem tentar fazer uma revisão dos acontecimentos, na esperança de os evitar no futuro. Deve-se também elogiar quando a criança se conseguiu controlar, incentivando-a a dominar as birras tão assustadoras para ela própria. Um abraço, um beijinho, ajuda a criança a sentir-se de novo segura.
Quais são as causas das birras?
As birras acontecem, muitas das vezes, porque as crianças, já “obrigadas” a encararem um vasto leque de desafios – motores, cognitivos, emocionais, comunicacionais e sociais – ainda não dominam as competências necessárias para lidar com todos eles. Para além de uma coordenação limitada, falta de destreza e de palavras, está a falta de algumas capacidades básicas – tolerância à frustração, paciência e a capacidade de se acalmar, entre outras, sem as quais as birras se tornam inevitáveis. Estas capacidades vão sendo adquiridas ao longo do crescimento e podem demorar algum tempo a ser interiorizadas. Mas não se preocupe porque são normais em crianças com menos de 4 ou 5 anos.
Como lidar com as birras?
Se a criança puder ser deixada onde está, em segurança, deixe-a, afastando-se um pouco. Caso ela esteja a usar a birra para lhe transmitir algo, afastar-se é a melhor maneira de lhe mostrar que tem de encontrar uma forma mais adequada de lhe dizer o que lhe vai na cabeça.
Antes de se afastar um pouco, diga à criança que sabe que ela é capaz de se controlar e que volta para perto dela quando isso acontecer. O melhor é não se envolver na birra dela.
Caso, não possa deixá-la onde ele está, por exemplo numa loja ou no passeio, pegue-lhe ao colo. Algumas crianças sentem-se confortadas quando lhes pegam no meio de uma birra e vão-se, progressivamente, acalmando ao sentirem-se agarradas com firmeza. Explique-lhe, calmamente, que a vai segurar até que ela se acalme.
Caso fique ainda mais agitada, afaste-a o mais rapidamente possível para um lugar seguro (por exemplo, da loja para o seu carro, onde podem sentar-se calmamente, não a deixe sozinha). Nesse momento, fale com ela o menos possível, excepto para lhe dizer que não vai acontecer nada antes de se acalmar.
Se a criança tentar interagir consigo antes de se acalmar, dê-lhe tempo, não se envolva ainda. O “tratamento silencioso” pode deixá-la furiosa, portanto diga-lhe rapidamente que irão conversar quando tiver a certeza de que ela já terminou e se consegue manter calma. Se tentar falar com o seu filho sobre o incidente antes de ele se ter acalmado, para lhe dizer o que pensa ou deixá-lo explicar-se, é provável, que ele se descontrole outra vez. Diga-lhe: “falamos quando fores capaz de o fazer sem ficares agitado.”
Uma maneira de a criança controlar as birras passa por seguir o exemplo dos pais em termos de estratégias de auto controlo. As piores birras ou as mais inconvenientes e embaraçosas acontecem quando os pais estão mais tensos, pois a criança sente essa ansiedade e consequente reage a isso, aumentando e manifestando também a sua própria tensão.
As birras não acabam de um momento para o outro, não deixe de desencorajar o seu filho quando a próxima acontecer. Se a sua resposta às crises dele lhe der a impressão de que lhe fazem a vontade se fizer birra, é provável que ele repita, uma e outra vez, mesmo quando já tiver idade para não o fazer. O seu filho precisa de perceber que as birras significam que ele se descontrolou e não que a controla a si. Quando a criança sente que tem controlo sobre a mãe/pai mais do que devia, pode sentir-se assustada. As crianças precisam de saber que os pais dominam as situações, especialmente quando elas não são capazes de o fazer.
A serenidade dos pais, o amor que é transmitido à criança, e o estabelecimento de uma relação pais-filho de segurança é o melhor meio para lidar com as birras.
A anorexia é um “salto de Ícaro” – a dada altura, a adolescente dá um salto em direcção a uma auto-afirmação e autonomia, mas este é acompanhado muitas das vezes por intensas necessidades de regressão. Tal perturbação torna-se evidente, em regra, na transição da pré-adolescência para a adolescência e é mais frequente nas raparigas do que nos rapazes.
A adolescente controla, por um lado, o que come, numa afirmação megalomaníaca de autonomia e oposição aos mandatos familiares; e por outro lado, obriga o corpo a involuir para uma fase infantil, regressando ao período de latência. A adolescente sente um intenso medo do crescimento e da idade adulta, com todas as suas dimensões, incluindo a sexual.
As formas femininas vão desaparecendo, acabando a jovem por ficar com um aspecto cadavérico, que, mesmo assim, é sentido pela adolescente como uma insatisfatória aproximação do seu ideal corporal. Assim, as consequências somáticas da anorexia são várias: magreza, rosto pálido e pele cinzenta, olhar vazio e sem brilho, olhos encovados e olheirentos, queda de cabelo, amenorreia, hipotensão, anemia e gastrites.
As adolescentes anorécticas foram geralmente crianças muito dependentes do meio familiar, “meninas-modelo”, perfeccionistas, conformistas, indo sempre de encontro às expectativas dos pais e procurando agradar. O ideal de perfeição está presente a todos os níveis.
Segundo alguns autores, as restrições alimentares podem começar na sequência de um choque emocional ou de conflitos psicológicos mais ou menos evidentes, mas quase sempre aparecem progressivamente e sem causa aparente. Inicialmente, estas restrições alimentares não são preocupantes e aparecem como condutas normais. Quando os pais se apercebem da gravidade da situação, já a anorexia está perfeitamente instalada e adolescente encontra-se já numa fase de involução, sem se preocupar com as suas restrições.
Os problemas em relação à comida instala-se a diferentes níveis na família - a anoréctica nega a anorexia e a extrema magreza, centrando toda a sua vida ao redor da dieta e do corpo; do lado da família, é muito difícil para uma mãe aceitar que a filha morra de fome – foi a comida o primeiro elo que se estabeleceu entre o bebé e a mãe. Assim, os pais tentam obrigá-la a comer, mas a adolescente ou jovem afirma que se sente bem e a sua actividade continua num nível que raia a hiperactividade motora e intelectual mas numa fase final, podem aparecer tendências depressivas e alguma angústia.
Paralelamente, as relações familiares vão-se degradando e vão-se gerando conflitos. Por um lado, as expectativas dos pais em relação à filha eram muito altas e foram “brutalmente” desiludidas; por outro lado, a adolescente vive na defensiva, centrando-se num jogo familiar em que tudo gira à volta da comida.
A comunicação centra-se na alimentação e é paradoxal. Por um lado, com o seu comportamento, a anoréctica provoca a intervenção do meio familiar, por outro lado, recusa ser ajudada, ser cuidada, ser reparada. As relações sociais também se degradam e as relações amorosas são evitadas ou, quando existem, são extremamente superficiais.
Toda a vivência relacional é conflitual e a realidade está perfeitamente deturpada em termos de corpo e alimentação.
A abordagem terapêutica deve ser sempre feita a dois níveis – físico e psicológico. Para se libertar desta procura de auto-destruição, a adolescente ou jovem tem que aprender a aceitar-se a viver, a ter prazer e a relacionar-se com os outros.
A característica essencial da Perturbação de Ansiedade Generalizada é a ansiedade e a preocupação (apreensão expectante) exageradas acerca de um conjunto de acontecimentos ou actividades. A pessoa apresenta dificuldade em controlar a preocupação, sendo a ansiedade e a preocupação acompanhadas de, pelos menos, três sintomas adicionais de uma lista que inclui agitação, fadiga fácil, dificuldade de concentração, irritabilidade, tensão muscular e sono perturbado.
Apesar das pessoas com este tipo de perturbação nem sempre classificarem as preocupações como “excessivas”, descrevem mal-estar subjectivo, devido a essas constantes preocupações, têm dificuldade em controla-las ou evidenciam limitações no funcionamento social, ocupacional ou noutras áreas importantes. A pessoa tem dificuldade em evitar que os pensamentos preocupantes interfiram com a atenção que deve prestar às tarefas que está a desempenhar e tem dificuldade em colocar um fim às preocupações.
Os adultos que possuem esta perturbação preocupam-se frequentemente com circunstâncias diárias e rotineiras da vida, tais como, possíveis responsabilidades no emprego, aspectos financeiros, situações que podem acontecer aos filhos ou pequenos problemas.
A ansiedade e a depressão são consideradas por muitos médicos dos cuidados primários como uma única doença, uma vez que a maioria das pessoas sofre daquilo que parece ser um quadro misto de ansiedade e de depressão. Apenas um pequeno número, se apresenta com ansiedade simples ou depressão simples.
A ansiedade e a depressão são os problemas mais comuns que levam as pessoas a procurarem ajuda terapêutica.
Poder-se-á distinguir dois tipos de ansiedade:
- A ansiedade primária, ou também chamada de “ansiedade traumática” condicionada por um “traumatismo” ou modificações do meio, onde a própria pessoa é incapaz de dominar.
- A ansiedade secundária ou “ansiedade-sinal”, que corresponde à resposta da própria pessoa a um perigo interior, ou seja, um movimento pulsional que ameaça romper o equilíbrio da relação.
Na primeira, a pessoa perde a sua capacidade de resposta por imaturidade, por estar num estado regressivo ou pelo excesso dos estímulos externos, sendo uma experiência emocional sofrida passivamente. Na segunda, a pessoa utiliza um sinal de antecipação do perigo para pôr em marcha os mecanismos de adaptação e defesa, ou seja, a ansiedade secundária é um despertador de uma actividade específica.
Poder-se-á dizer, também, que a ansiedade é o medo interiorizado (ficou registada a perigosidade de uma determinada situação relacional), surgindo o medo quando se repete uma situação idêntica, sem que a situação actual seja comparada conscientemente com a situação anterior.
Contudo, ansiedade não é sinónimo de depressão e nesse sentido dever-se-á distinguir a ansiedade da depressão.
Enquanto que a depressão corresponde a uma situação de perda, desamparo ou solidão efectiva; a ansiedade corresponde ao afecto produzido pela ameaça de perda ou insegurança. No entanto, pode-se correlacionar a ansiedade secundária com a depressão ligada a uma transitória diminuição da auto-estima por perdas sofridas, como sinal da necessidade de novos investimentos. E a ansiedade primária, com a doença depressiva, na qual se assiste a uma regressão, condicionada por uma relação em que predomina a incerteza e a ambivalência, isto é, a necessidade de alimentos narcísicos e a intolerância à frustração (condições oriundas de uma relação primária precária e pobre, que se vai repetindo nas relações sucessivas que se estabelecem pela vida fora).
Em suma, poder-se-á referir que a perda e a ameaça de novas perdas se encadeiam num continuum existencial, e por isso, em toda a depressão há sempre ansiedade mais ou menos evidente.
Todas as transformações inerentes à gravidez tornam a mulher mais sensível e mais vulnerável para o bom e para o mau. A mulher pode sentir-se mais insegura em relação às suas competências como mãe. Tende a questionar-se se vai conseguir cuidar do bebé e responder às suas necessidades.
Autores dizem que após o nascimento do bebé, a mãe pode apresentar aquilo que se chama de “blues pós parto”. Caracteriza-se por sentimentos passageiros manifestos em humor depressivo, crises de choro sem motivo aparente ou desencadeadas por situações que normalmente não teriam tal efeito, irritabilidade fácil, ansiedade, perturbações do sono e do apetite, alguma confusão, sentimentos de inferioridade, culpabilidade e vivência de cansaço. Este “blues pós parto” pode resultar de uma série de factores, nomeadamente da estrutura da personalidade da mãe. Pode durar algumas horas, dias e pode ir até à 2ª/ 3ª semana após o parto. Muitas vezes não é detectado, é sim desvalorizado pelas pessoas que estão em torno da mãe; família e amigos que dizem: “é normal, está vulnerável”.
Muitas vezes, este quadro antecede a depressão pós-parto propriamente dita, apresentando mais ou menos os mesmos sintomas mas sendo mais contínua no tempo.
Na depressão pós-parto, os sentimentos de inferioridade resultam directamente dos sentimentos de incapacidade para cuidar do seu bebé, dar-lhe amor e compreender as mensagens que o bebé transmite. A mulher apresenta cansaço, desinteresse, incapacidade para tomar qualquer responsabilidade, culpabilidade, sentimentos de vergonha e desespero. Sente que não é capaz de cuidar do seu bebé, que não quer, tem uma enorme culpabilidade e acha que outra pessoa cuidaria melhor do bebé. Esses sentimentos dão origem mais tarde a comportamentos de hiper-protecção e hiper-presença para compensar a culpabilidade que sente pela forma como tratou ou sentiu o seu bebé inicialmente.
Nestas situações, a mãe não deve ser afastada do bebé mas sim cuidar dele com ajuda, excepto quando há descompensação psicótica.
Muitas vezes a depressão pós parto não é diagnosticada e só mais tarde quando a criança já é grande, é que se detecta a depressão na mãe. Já não é depressão pós parto mas sim depressão materna que derivou da gravidez mas que não foi reconhecida nessa altura. A mulher sente-se cada vez mais incapaz e que ninguém a percebe.
Daí que numa depressão pós-parto a mãe deve ser compreendida e ajudada. Tudo piora quando ela fica sozinha e nem sequer consegue preencher os cuidados básicos, acabando por deixar o bebé a chorar durante muito tempo. Esta mãe vai sentir-se extremamente culpabilizada e os seus sentimentos de culpabilidade vão ser sentidos, não só na própria (como acontece numa depressão “normal”) como também no seu bebé. Este estado psicológico não a vai ajudar a estabelecer relação com o bebé. Fica incapaz de funcionar em qualquer campo e como tal os sentimentos de culpa vão sendo cada vez maiores e alastram-se igualmente para o seu dia-a-dia, ou seja, não consegue fazer nada bem, nem como mulher, nem como profissional.
Neste sentido, torna-se essencial que seja realizado um diagnóstico na devida altura para que se possa fazer uma intervenção no sentido de restabelecer o funcionamento da mãe, melhorar a relação mãe-bebé e para que mãe consiga compreender e ultrapassar o que está a sentir e vivenciar dentro dela.