Terça-feira, 18 de Março de 2008

O Significado e Função do Brinquedo na Criança

A actividade lúdica da criança é um dos aspectos mais genuínos do comportamento infantil.

O jogo pode ser visto como um marco de referência cultural e de uma aproximação genética, como a expressão do procurar o outro, mais precisamente, a expressão do procurar o adulto (a quem a criança procura imitar ou contrariar) e ao qual, em seguida, substitui pelas regras do jogo.

Até aos 5 anos podem observar-se crianças que jogam em grupo, contudo e apesar de jogarem juntas, cada uma joga em separado.

Dos 6-10 anos: grupos de jogos competitivos (carácter heterogéneo: muitas vezes os pequenos apenas admiram os maiores, para só depois serem aceites nesse mesmo grupo).

Com o desenrolar do crescimento, nasce gradualmente a disciplina na actividade lúdica. No início existe apenas um respeito pela ordem exterior, isto é, há um gosto pelos ritmos, pelas repetições, etc. Com a evolução em direcção à ordem, opõe-se o egocentrismo e a impulsividade da criança. A ordem, a regra e a disciplina vão-se infiltrando no jogo. A actividade funcional conduz à imitação. As invenções partem da analogia, as tradições são duradouras (ex: canções infantis, onde também há a manifestação da herança adulta).

É possível classificar os brinquedos em: brinquedo completamente pronto, simples ou mecânico (ex: carrinhos), que tem como finalidade que a criança brinque realmente, consiga efeitos, construa, faça combinações; brinquedos feitos aos poucos, que a própria criança deve completar (ex: quebra-cabeças), que têm como finalidade, levar até ao fim aquilo que começou; material de jogo (ex: plasticinas), sendo que a finalidade deste ultimo seja a compreensão da utilidade de cada brinquedo e que aprenda a cuidar deles.

A actividade funcional da criança (marcha) possui um carácter pré-lúdico que adquire o seu valor completo, somente em relação com a sua satisfação social. O jogo tem valor na aquisição do sentido social somente se não for desprezado pelos adultos.

Muitas vezes, o significado dos jogos que a criança pratica apresenta um carácter defensivo e projectivo da sua realidade interior. Existem vários exemplos dessa defesa, a saber: menino que se entrega a exageros guerreiros, permite, em certa medida, controlar o medo que sente; menina que brinca com as bonecas, pode aprender, neste jogo, a controlar o seu medo e a culpa que sente pela mãe, uma vez que esta é vivida como uma rival edípica; brincar aos médicos, é uma modalidade de identificação narcisista, isto é, a criança experimenta ela própria, sobre o outro, em particular sobre o adulto que a ele se presta, os perigos que o doutor que a atende a faz correr.

O jogo, considerado sob o ângulo da aprendizagem das funções sociais, mostra que as particularidades da relação com os pais são uma parte contributiva importante no fenómeno da transmissão cultural.


 

 

Psicóloga Clínica Carolina Rodrigues às 19:00
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Enurese e Encoprese (Xixi e Cócó)

A Enurese é a emissão não voluntária de urina de dia ou a noite, até uma idade em que se espera que haja controle sobre a emissão, por parte da criança, ocorrendo por volta de 3-4 anos.

A Encoprese consiste em que a criança faça suas "necessidades", repetida e involuntariamente, em lugares que não são adequados para isso, numa idade em que se espera que haja controle do mesmo, por volta de 3-4 anos.

A enurese e encoprese são involuntárias e muitas das vezes são expressão de algum transtorno emocional. Quando é secundária, ou seja, quando ocorre após um período de controlo, pode tratar-se de um estado regressivo do desenvolvimento, motivado por factores ambientais e emocionais. Contudo, convém ter em conta que este problema pode também estar associado a algum problema orgânico.

A criança não tem culpa de não conseguir controlar a emissão das suas necessidades. A urina e as matérias fecais veiculam uma enorme carga afectiva para a criança, que poderá conter aspectos negativos e positivos ao nível relacional e afectivo. É um acto involuntário, como tal não pode ser punida e castigada porque isso irá aumentar a sua ansiedade, instabilidade emocional, reactivar medos e problemas de sociabilização. Pelo contrário, a criança precisa de apoio, incentivo e reforço positivo para aprender a controlar-se e crescer em harmonia. Ela necessita de sentir que os pais a apoiam, ajudam a superar o seu problema, compreendem e continuam a dar todo o afecto que necessita.

É necessário demonstrar à criança que não é necessário ter medo de crescer, pois continuará a ter o afecto, presença e apoio dos pais.

 

Alguns procedimentos e cuidados a ter para com a criança:

  • Não voltar a colocar a fralda
  • Não ralhar quando a criança faz xixi e cocó, nem exercer qualquer tipo de punição agressiva
  • Reforçar positivamente cada vez que a criança pede para ir à casa de banho, ou quando não “traz nenhum saquinho” da escola
  • Começar por utilizar o bacio e depois a casa de banho
  • Encorajar a criança a ir à casa de banho ou ao bacio e perguntar-lhe várias vezes se necessita de ir e leva-la até lá. Tornar este momento positivo e como fonte de bem-estar para a criança
  • Deixar a criança levar um boneco quando vai à casa de banho para sentir mais segura e relaxada
  • Passar algum tempo com a criança a brincar livremente para que sinta segurança e apoio na relação parental e progressivamente se sinta mais estável e tranquila emocionalmente.
Psicóloga Clínica Carolina Rodrigues às 18:10
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A Irrequietude da Criança

A função motora é, essencialmente, uma função relacional. A criança procura aproximar-se ou afastar-se de estados de desejo ou de medo, primeiro através do movimento, e só mais tarde através do pensamento. Assim, o desenvolvimento do bebé procede-se na alternância entre momentos de grande proximidade física e momentos de afastamento, sendo ambos os momentos organizadores do mundo interno, das relações com os outros e do próprio corpo. As representações de transformação e de mudança são a raiz das representações mentais, antecedendo as representações das coisas e das palavras; assim, a primeira representação da mãe tem a ver com os movimentos que a criança faz para se ajustar ao seu corpo, tudo permeado pelo grau de prazer ou desprazer conseguido com tais movimentos.

Deste modo, há uma íntima ligação entre movimentos e afectos. Os movimentos do bebé e da mãe só adquirem significado na resposta afectuosa que ambos dão um ao outro. É através da mímica, da postura, do movimento e da lalação que bebé e mãe ressentem e interpretam corporalmente o que querem transmitir.

A instabilidade motora é um fenómeno normal nas crianças antes da idade escolar, que tem como objectivo definir um território de segurança ou fugir a um objecto desconhecido e atemorizador. Aquilo a que se chama instabilidade da criança escolar é, então, a persistência de um comportamento da criança pré-escolar, ansiosa e insegura na vida social, quer dizer, longe da mãe ou com uma mãe insuficientemente disponível. De facto, as mães de crianças instáveis, estão frequentemente deprimidas (por vezes, afectivamente abandonadas) e os pais são frequentemente ausentes (por vezes, impacientes e mais rígidos).

A irrequietude caracteriza-se fundamentalmente por:

- desatenção

- movimento de “enguia”

- ausência de capacidade de auto-protecção

- ousadia desmedida

- egossintonia (a criança não sofre com a sua irrequietude mas com as consequências que daí advém)

Por detrás da irrequietude, encontram-se profundas ansiedades, que foram decisivas no modo como a criança organizou as suas relações com as pessoas e objectos. Assim, a instabilidade motora seria uma procura sem fim de um objecto de amor, a que a criança possa apegar-se com segurança. A irrequietude é a expressão e transformação da inquietação da criança - não há propriamente angústia e ansiedade, mas uma insatisfação permanente. De facto, não pode haver satisfação com a dispersão e a concentração é impossível para estas crianças, na medida em que concentrar-se equivale a parar. A criança anseia por um local ou um objecto de satisfação ou segurança, mas quando encontra um novo objecto, um novo local, uma nova actividade, rapidamente adquirem características de insegurança e desconforto. Logo, a criança tem necessidade de se movimentar novamente. Há uma constante oscilação entre o desconforto depressivo (angústia de afastamento enquanto receio de perda de bem-estar), que leva a criança a procurar outro objecto, e a angústia persecutória (angústia de aproximação enquanto interrogação quanto à qualidade do encontro), que faz com que o objecto seja sentido como ameaçador. Neste sentido, a proximidade desencadeia angústia claustrofóbica e a distância desencadeia angústia agorafóbica - a criança oscila constantemente entre uma e outra.

Com os movimentos de aproximação e afastamento, a criança procura manter ou adquirir um sentimento de bem-estar de fundo - a homeostasia narcísica primitiva está intimamente ligada à motricidade. Para a criança irrequieta, a movimentação, vista pelo observador como excessiva, é necessária para uma relativa estabilização.

A irrequietude na criança corresponde, a uma separação psicológica prematura, muito à frente das capacidades de individuação, devida a vicissitudes na relação com o objecto de amor primário. Esta separação prematura dificultará gravemente a travessia da etapa de reaproximação.

A mãe tem que ser sentida como suficientemente constante, previsível e tranquilizadora para que uma evolução normal se possa instalar. De outro modo, a criança pode privilegiar a motricidade como seu mecanismo primário de defesa, contra sentimentos de abandono e intrusão, transformando a irrequietude numa forma de anti-pensamento, que tem como finalidade minorar a dor psíquica. A irrequietude precoce constituiria, assim, também um dos modos de que a criança disporia para proceder a uma regulação da mãe. Progressivamente, este objecto será interiorizado, conduzindo à formação de um objecto interno gerador de profundas ansiedades no self. Sentindo como impossível a satisfação das necessidades de amor, estas serão transformadas numa procura sem fim de confortos materiais.

A irrequietude motora é apenas um aspecto de um quadro global complexo, onde se inserem perturbações dos afectos, da psicomotricidade, do pensamento e da linguagem. Estas perturbações vão dificultar grandemente a escolarização destas crianças.

A intervenção terapêutica será diferente consoante o diagnóstico psicopatológico e a estrutura na qual a irrequietude se insere.



Psicóloga Clínica Carolina Rodrigues às 17:50
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Segunda-feira, 17 de Março de 2008

A Criança Desafiadora – Perturbação Desafiador Opositivo

A perturbação desafiador opositivo pode ser definida como um padrão persistente de comportamentos negativistas, hostis, desafiadores e desobedientes observados nas interacções sociais da criança com adultos e figuras de autoridade de uma forma geral, como, pais, tios, avós e professores.

Os principais sintomas são: perda de paciência frequentemente, discussão com adultos, o desafio e recusa a obedecer a solicitações ou regras dos adultos, incomodo deliberadamente dos outros, responsabilização dos outros pelos seus erros e irritabilidade.

Existe nestas crianças ou adolescentes um prejuízo significativo no funcionamento social, académico ou ocupacional. Envolvem-se constantemente em discussões e são comummente rejeitados pelos colegas do grupo escolar. Consequentemente há um comprometimento da auto-estima.

Os sintomas iniciam-se normalmente antes dos oito anos de idade e a perturbação desafiador opositivo apresenta-se, em número significativo dos casos, como um precursor ou antecedente evolutivo do transtorno de conduta, forma mais grave de perturbação disruptiva do comportamento.

A prevalência da perturbação desafiador opositivo situa-se em torno de 2% a 16%, sendo aproximadamente duas vezes mais comum em meninos do que em meninas. Habitualmente observa-se a presença de transtornos comórbidos como a perturbação de déficit de atenção e hiperatividade, perturbações do humor e perturbações ansiosas.

A etiologia da perturbação desafiador opositivo não está bem estabelecida, no entanto, acredita-se que factores genéticos associados a desencadeadores ambientais possam estar envolvidos.

O tratamento preconizado para crianças e adolescentes com esse diagnóstico passa pela utilização de técnicas de intervenção psicológica com a criança, associadas a uma orientação a pais e professores.

Psicóloga Clínica Carolina Rodrigues às 18:10
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Dislexia Adquirida / Desenvolvimento; Dislexia Central/Periférica; Dislexia Profunda /Superfície

O termo dislexia refere-se a dificuldades de leitura na ausência de qualquer outra limitação ou alteração das capacidades intelectuais. Esta perturbação pode-se ainda classificar como dislexia adquirida, de desenvolvimento, central, periférica, de superfície e profunda.

A dislexia adquirida surge na sequência de um traumatismo ou lesão cerebral (a pessoa lia bem mas depois surgiu algum problema e passou a ter a perturbação).

A dislexia de desenvolvimento corresponde a uma perturbação ou atraso na aquisição de leitura que se relaciona com problemas na aprendizagem.

A dislexia central existe quando a produção de palavras escritas ou a sua leitura é afectada.

Por outro lado, a dislexia periférica ocorre apenas quando é afectado um modo de saída de vocalização e escrita.

A dislexia profunda ou fonológica caracteriza-se pela ocorrência dos chamados erros semânticos. Ex. A pessoa lê “carro” em vez de “roda”. Também se caracteriza por uma grande dificuldade em ler palavras desconhecidas.

A dislexia de superfície ou ortográfica corresponde à dificuldade de ler palavras irregulares, isto é, palavras que se lêem de forma diferente à da escrita. Ex. Em “guitarra” não se lê o “u”.

Os primeiros sinais de que a pessoa pode apresentar dislexia, tendem manifestar-se através de problemas de aprendizagem, dificuldades na linguagem oral, quando não há associação de símbolos gráficos às suas componentes auditivas, dificuldades em seguir orientações e instruções, dificuldades de memorização auditiva, problemas de atenção e ou de lateralidade. Na leitura ou na escrita, a pessoa pode confundir algumas letras, como por exemplo f/v; p/b; ch/j; p/t; v/z: b/d…) ou fazer possíveis inversões: ai/ia; per/pré; fla/fal; cubido/bicudo… ou ainda fazer omissões: livo/livro; batata/bata…).

O psicólogo pode intervir para ajudar a pessoa a melhorar e a ultrapassar estas dificuldades. No caso da dislexia ser profunda pode-se reeducar fenologicamente a pessoa aplicando exercícios que a faz tomar consciência fonética.

 

Psicóloga Clínica Carolina Rodrigues às 18:00
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